quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Um Fusquinha ao Contrário

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A história dessa matéria começou em um Domingo de sol. Neste dia seria realizado o tradicional “Roncaço do motor boxer”, evento no qual centenas de Fuscas e similares saem às ruas para festejar os predicados do propulsor criado por Ferdinand Porsche. Enquanto clicava alguns modelos olhei com atenção e reparei que este exemplar tinha algo de “errado”. “Onde estará o volante?”, pensei naquele momento em frente ao estádio do Pacaembu. O olhar foi desviado até o lado direito, normalmente reservado ao passageiro, e lá estava ele, ao contrário do que estamos acostumados a ver.

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Circulando por ali encontrei o proprietário, o médico João Reinaldo de Oliveira Abrahão, que comprou o carro há mais de quarenta anos e tem muitas histórias pra contar sobre ele. Acomode-se na cadeira e leia até o fim. Vale a pena. Todas as histórias com colecionadores, aliás, têm um denominador comum: a paixão começa na infância. Neste caso não foi diferente. “Meu falecido pai sempre trabalhou com carros, e desde pequeno me interessava pelos calhambeques, até que ainda menor (com carteira de habilitação), comprei esse Fusquinha do consulado americano”, conta.
O modelo foi adquirido em 1967 através de um leilão no consulado americano, em São Paulo. “Fui segundo colocado, mas o primeiro desistiu”, diz. “A partir daí era o segundo dono, pois ele veio usado para o Brasil com os pertences de um cônsul”, revela.
Mas o clássico Volkswagen escapou de suas mãos no ano seguinte. “Precisei vender o carro e o comprador foi um deficiente físico”, relembra. Por sorte, o médico conseguiu recomprá-lo em 1975 e, daí por diante, não quis mais se desfazer do carrinho.
Uma olhada rápida no Fusca pode dar a impressão de que ele foi restaurado. Mas é fruto da excelente conservação. “Ainda não restaurei, por isso não está impecável, apenas conservado. Mas ainda pretendo restaurar”, conta. “Já conversei na Sulam e creio que farei a pintura lá. Tenho um mecânico aposentado (sr. Carlo) que até hoje atende somente a mim com meu carro”, revela Abrahão.
E o cuidado também se estende à manutenção, o que provocou a necessidade de viagens ao exterior.”Certa vez precisei do carburador quando o recomprei, e fui encontrá-lo só na França, com a ajuda de uma irmã que morava lá”, relembra. Outro detalhe interessante é o estepe original, sem câmara, fabricado em Luxemburgo.

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Porém, a história mais divertida com o modelo ganhou até um prêmio da Volkswagen. Ela aconteceu em uma madrugada de 1968. Imagine o leitor que, naquela época, o regime militar estava em seus anos de chumbo e os órgãos de repressão corriam atrás de qualquer coisa que parecesse suspeita.

Pois bem. Nessa noite o jovem proprietário seguia a bordo do Fusquinha ao contrário – em companhia da namorada – e fez uma conversão proibida no cruzamento das Avenidas Brasil e Rebouças, no coração dos Jardins. Um comando de polícia ordenou que parasse e é aí que a história fica engraçada.

O policial chegou na janela esquerda do carro e pediu os documentos para a namorada. Reinaldo, por sua vez, tentou explicar algo sobre o volante ao contrário. De nada adiantou. “Ele nem quis saber e me mandou ficar em silêncio”, relembra.

Após alguns minutos – que devem ter parecido horas – o policial pediu para que o rapaz saísse do carro. Neste momento percebeu o volante do lado direito, se sentou ali para ver como era e dispensou o jovem casal, sem ao menos dar a multa pela infração de conversão proibida. “Essa história deve ser lembrada até hoje”, conta o médico com bom humor.

Mas não pense o leitor que fiquei só olhando. Também dei uma volta dirigindo esta raridade. E a diversão começou logo após sentar do lado direito. Ao contrário do que pensamos as relações de marcha são idênticas às dos carros, digamos, “normais”. Isso significa dizer que a primeira é para a esquerda também. Daí foi só acelerar e entrar no meio do trânsito.

Confuso? Que nada. Dirigir à moda inglesa é uma experiência diferente. Alguns motoristas olham duas vezes quando percebem que você está bem ao lado deles. Mas isso faz parte da brincadeira toda. Tem gente até que cutuca o que está do lado apontando para o Fusquinha.

Aliás, enquanto estávamos tirando as fotos, dois curiosos apareceram. “É alemão?”, perguntou um deles, em companhia da mulher e filhos. “Que bacana”, exprimiu após olhar por dentro. O segundo foi um vigia de rua. “Nunca vi isso”, exclamou atônito.

A reação de surpresa e espanto nas ruas daria mais um bocado de histórias e muitos parágrafos. Mas vamos parando por aqui. Mais uma vez ficou claro que o modelo da Volkswagen tem um lugar especial no coração das pessoas. Nesse caso, excepcionalmente, do lado direito do peito.

Fonte retirada do Site Flashbackers

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